Lembranças do morrer;
Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixo o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade - é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas..
De ti, ó minha mãe, pobbre coitada
Que por minha trsiteza te definhas!
De meu pai.. de meus únicos amigos,
Poucos - bem poucos - e que não zombavam
Quando, em noite de febre endoidecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.
[...]
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nelas
- Foi poeta - sonhou - e amou na vida -
Alvares de Azevedo
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